Psiquiatria do estilo de vida

Psiquiatria do estilo de vida

Psiquiatria do estilo de vida

Qual o verdadeiro papel do estilo de vida na saúde mental?

Quais hábitos de um indivíduo podem causar doenças mentais?

Separa papel e caneta que aqui vai um apanhado do que a ciência tem a dizer sobre esse assunto.

Atividade física

Para você que (como eu) não perde a oportunidade de evitar atividade física, as notícias não são boas. Em se tratando de psiquiatria do estilo de vida, nenhum outro hábito reúne tantas evidências favoráveis quanto a prática de atividade física. Há uma variedade de estudos bem conduzidos demonstrando os benefícios do exercício físico regular em pessoas que sofrem de ansiedade, depressão e outros transtornos.

As diretrizes atuais do Colégio Americano de Medicina Desportiva recomendam que cada sessão de exercícios seja composta por três fases que devem ser realizadas de forma ordenada. Essas fases são o aquecimento, a parte principal e o retorno à calma.

Já frequência, intensidade, duração e tipo de exercício vão depender dos objetivos e (claroooo) das condições de saúde do praticante. Para redução dos sintomas de depressão em adultos, por exemplo, o mais indicado é a prática de pelo menos 90 minutos semanais de atividade física.

Alimentação

A psiquiatria nutricional é um campo de pesquisa muito novo e os resultados dos estudos realizados até o momento são insuficientes. Há pesquisas sobre diversos temas, tais como:

  • probióticos
  • prebióticos
  • dietas isentas de caseína
  • dietas isentas de glúten
  • dieta cetogênica
  • dietas personalizadas (com base na genética, no metabolismo e no fenótipo)

A verdade é que a ciência ainda não é capaz de dizer, por exemplo, se probióticos podem diminuir os sintomas depressivos de pacientes ou se dietas com eliminação de alergênicos podem melhorar os sintomas de TDAH.

Manejo do estresse

Resposta de estresse

Os eventos estressores geram no nosso corpo um conjunto de alterações chamadas de resposta de estresse.

Se a resposta de estresse continuar pode haver alteração da estrutura cerebral e prejuízo da memória, do aprendizado, da atenção e da capacidade de planejamento de um  indivíduo. A resposta de estresse prolongada também pode comprometer a imunidade deixando as pessoas mais vulneráveis a infecções.

Como ela aparece?

Resposta: de forma automática e involuntária. Infelizmente.

Resposta de relaxamento

Situações de calma e segurança produzem em nós um sensação de bem estar conhecida como resposta do relaxamento. Mas a resposta de relaxamento é bem mais do que uma sensação de bem-estar. Ela interrompe a reposta de estresse e  promove o equilíbrio das funções do nosso corpo.

Como ela aparece?

Resposta: ela pode aparecer de forma involuntária, quando estamos diante de uma situação em que nos sentimos seguros. Mas também pode ser produzida de forma voluntária através de meditação, ioga e treinamento autógeno.

Agora a gente já sabe que estresse contínuo tem efeito danoso e que meditação (ou qualquer outra prática que produz reposta de relaxamento) pode bloquear esse efeito.

Sono

Está mais do que comprovado que insônia e outros transtornos do sono comprometem a saúde física e mental. Quem dorme mal tem maiores chances de desenvolver ansiedade, depressão e queixas de memória. O risco de suicídio também é maior entre esses pacientes.

A boa notícia é que há diversos tratamentos disponíveis e de eficácia comprovada. Intervenções não medicamentosas, por exemplo, foram capazes de melhorar os sintomas depressivos de pacientes com queixas de sono em vários estudos.

Há um texto sobre insônia disponível aqui no nosso site.

Relacionamentos saudáveis

Quando a gente fala de saúde mental, os relacionamentos têm um papel da maior importância. Tanto é que resolvi deixar esse assunto para um outro post. Vou um escrever um texto dedicado inteiramente ao tema.

Até breve!

To be continued…

Referências bibliográficas

Carvalho APL, Lafer B, Schuch FB, editors. Psiquiatria do estilo de vida: Guia prático baseado em evidências. 1st ed. Santana de Parnaíba: Manole; 2021.

Miguel EC, Lafer B, Elkis H, Forlenza OV, editors. Clinica psiquiátrica: As grandes síndromes psiquiátricas. 2nd ed. São Paulo: Manole; 2021. 2 vol.

 

Terapias Alternativas para o Tratamento de Ansiedade

Terapias Alternativas para o Tratamento de Ansiedade

Os transtornos de ansiedade estão associados a doenças cardíacas, redução na qualidade de vida e suicídio.

Alguns tratamentos alternativos parecem promover a redução nos níveis de ansiedade entre os portadores de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Mas o que a ciência tem a dizer sobre cada um desses tratamentos?

Separa papel e caneta que aí vai uma lista das práticas integrativas que podem ajudar as pessoas com ansiedade.

1- Yoga

Yoga ou Ioga (grafia correta em português) é uma prática com enfoque em posturas, respiração e meditação. Um estudo realizado com 226 participantes que possuíam diagnóstico de TAG comparou a eficácia de 3 intervenções: Kundalini yoga X terapia cognitivo-comportamental X aulas sobre os efeitos do estresse (grupo controle). A Terapia cognitivo-comportamental (TCC) mostrou-se superior às outras intervenções. Mas os resultados do estudo também sugeriram que Kundalini yoga reduziu a preocupação excessiva em alguns indivíduos por um período de tempo curto.

Comentário: quem entende bem do assunto sabe que em termos de eficácia não é fácil superar a terapia cognitivo-comportamental (TCC). A TCC é um tratamento de primeira linha para os transtornos de ansiedade.

2- Meditação Mindfulness

Corre pela internet a lenda de que temos cerca de 40 mil pensamentos em um dia. Com tantos pensamentos, pode ser difícil prestar naquilo que realmente importa: o momento presente. O propósito da Meditação Mindfulness é nos afastar das distrações (pensamentos, sentimentos que não tenham relação com a experiência atual) para que possamos ver, sentir, ouvir e viver o agora. Uma revisão sistemática de 2014 que incluía 47 estudos com 3515 indivíduos concluiu que os programas de meditação mindfluness eram capazes de reduzir ansiedade, depressão e dor entre os participantes.

Comentário: Meditação Mindfulness existe há mais de 2500 anos aliviando o sofrimento humano. Já deu para perceber que eu sou uma grande fã dessa prática integrativa, não é?!

Outro comentário: O mecanismo exato pelo qual a prática de meditação melhora os sintomas de ansiedade ainda é um mistério, mas a ciência tem algumas teorias. Uma dessas teorias acredita que meditação e técnicas de respiração promovem redução da ansiedade porque diminuem os níveis de cortisol, de adrenalina e de noradrenalina.

3- Atividade Física

Há várias publicações científicas mostrando os benefícios da prática regular de atividade física.

Um desses estudos avaliou 33 participantes que foram divididos em dois grupos distintos e acompanhados por 30 dias. Um grupo recebeu um tratamento de primeira linha para transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e realizou treinos intervalados de baixa intensidade (LIIT). O outro grupo também recebeu um tratamento de primeira linha para TAG, mas realizou treinos intervalados de alta intensidade (HIIT). Houve uma redução nos níveis de preocupação exagerada dos 2 grupos, mostrando que a atividade física regular é capaz de reduzir a ansiedade quando associada a outros tratamentos de primeira linha. No grupo que praticou os treinos intervalados de alta intensidade (HIIT) essa redução nos sintomas de ansiedade foi ainda maior.

Comentário: lembrando que todos os participantes foram submetidos à avaliação clínica antes de realizarem exercícios físicos. Nada de sair por aí praticando atividade física sem procurar um médico.

4- Tai chi chuan

Tai chi chuan é uma arte marcial chinesa que preconiza a prática de meditação em movimento. Um estudo de revisão da literatura realizado em 2014 mostrou que a prática de Tai chi foi capaz de reduzir a ansiedade entre os praticantes.

5- Espiritualidade e Religião

Alguns trabalhos de pesquisa avaliaram a eficácia da meditação transcendental, da meditação Qigong e da meditação devocional (meditação bíblica). Houve uma redução nos níveis de ansiedade entre os participantes das pesquisas clínicas.

Muitos dos estudos que avaliaram a eficácia das práticas integrativas e complementares na redução da ansiedade tinham problemas metodológicos. Ainda assim, considerando os achados existentes e a possibilidade de efeitos adversos mínimos, alguns psiquiatras são favoráveis à prática dessas terapias.

Nota 1: há um texto sobre Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) no link https://dranadimme.com.br/transtornos-mentais/ansiedade/

Nota 2: a terapia cognitivo-comportamental (TCC) não foi inserida no texto sobre terapias alternativas, por se tratar de um tratamento de primeira linha para transtornos de ansiedade. Terapia cognitivo-comportamental não é tratamento alternativo.

Referências bibliográficas

Bystritsky, Alexander. “Complementary And Alternative Treatments For Anxiety Symptoms And Disorders: Physical, Cognitive, And Spiritual Interventions”. Uptodate.Com, 2021, https://www.uptodate.com/contents/complementary-and-alternative-treatments-for-anxiety-symptoms-and-disorders-physical-cognitive-and-spiritual-interventions?source=history_widget. Accessed on April 18, 2021.

Goyal, Madhav, et al. “Meditation programs for psychological stress and well-being: a systematic review and meta-analysis.” JAMA internal medicine 174.3 (2014): 357-368.

Plag, Jens, et al. “Working out the worries: A randomized controlled trial of high intensity interval training in generalized anxiety disorder.” Journal of Anxiety Disorders 76 (2020): 102311.

Simon, Naomi M., et al. “Efficacy of yoga vs cognitive behavioral therapy vs stress education for the treatment of generalized anxiety disorder: a randomized clinical trial.” JAMA psychiatry 78.1 (2021): 13-20.

Psiquiatra ou Psicólogo

Psiquiatra ou Psicólogo

Psiquiatra ou Psicólogo

 

Psiquiatra ou psicólogo? Essa é uma dúvida de 10 em cada 10 pacientes. Pesquisando na internet o tema “diferenças entre psiquiatria e psicologia”, acabei encontrando algumas ideias erradas sobre o assunto. Seguem alguns mitos sobre as duas profissões:

“O psiquiatra trata casos graves de doença mental. O psicólogo trata casos leves e moderados de doença mental”

Psiquiatras podem tratar casos leves, moderados e graves.

Psicólogos também podem tratar casos leves, moderados e graves.

“O psiquiatra trata com remédios. O psicólogo trata com terapia”

Eu e alguns outros psiquiatras trabalham atuando nas duas áreas: terapia e prescrição de medicamentos.

Psicólogos trabalham somente com terapia.

Agora que você já sabe que alguns psiquiatras também trabalham com terapia, vai perceber que o verdadeiro dilema é a escolha da modalidade de tratamento. Então vamos recomeçar e mudar o título do texto:

Terapia ou Medicamentos: qual o melhor tratamento para o meu caso?

Simplificando, podemos dizer que o tratamento com remédios se restringe aos casos de doença mental. Já a terapia tem um campo de atuação bem mais amplo. Pessoas que estão enfrentando uma fase difícil poderão se beneficiar da terapia. Vou facilitar com alguns exemplos:

Exemplo 1. O Senhor Y está passando por uma fase difícil no relacionamento. Senhor Y consegue trabalhar todos os dias, mas já não é mais o mesmo. Resolveu então procurar por uma psiquiatra. A psiquiatra do Senhor Y fez diversas perguntas sobre o quadro. Ao final da consulta ela disse que o Senhor Y está em sofrimento, mas não preenche critérios para as doenças mentais. Senhor Y saiu do consultório com uma indicação de psicólogo.

Exemplo 2. O Senhor Z está passando por uma fase difícil no relacionamento. Senhor Z consegue trabalhar todos os dias, mas já não é mais o mesmo. Resolveu então procurar por uma psiquiatra. A psiquiatra do Senhor Z fez diversas perguntas sobre o quadro. Ao final da consulta ela disse que o Senhor Z tem depressão. Senhor Z saiu do consultório com uma receita médica e uma indicação de psicólogo.

Se você está enfrentando uma fase difícil ou deseja resolver algum conflito, procure a terapia.

Se você tem depressão, ansiedade, esquizofrenia, crises de pânico, dependência de álcool, insônia, déficit de atenção (TDAH), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou qualquer outra doença mental procure o tratamento medicamentoso e também a terapia.

Vou deixar um resumo sobre o que a gente conversou.

Você deve procurar o tratamento medicamentoso:

  • Se você não sabe o que tem, mas está em sofrimento
  • Se você tem uma doença mental leve
  • Se você tem uma doença mental moderada
  • Se você tem uma doença mental grave

Você deve procurar a terapia:

  • Se você não sabe o que tem, mas está em sofrimento
  • Se você tem uma doença mental leve
  • Se você tem uma doença mental moderada
  • Se você tem uma doença mental grave
  • Se você não tem doença mental, mas está enfrentando uma fase difícil
  • Se você não tem doença mental, mas precisa de ajuda para resolução de um conflito

Ficou alguma dúvida sobre o fantástico mundo da saúde mental? Em nosso site, há um texto sobre o que você precisa saber antes de consultar um psiquiatra. 

Dor na relação sexual

Dor na relação sexual

Dor na relação sexual

Dor na relação sexual pode ser um transtorno mental: o Transtorno da Dor Gênito-pélvica/ Penetração.

Com frequência, as portadoras do transtorno possuem um quadro de tensão da musculatura pélvica e dor durante a penetração vaginal. Passam então a temer o momento das relações sexuais com receio de sentir dor. E aí se estabelece um ciclo de sofrimento, em que dor durante a penetração gera medo e medo gera mais dor durante a penetração.

Toda dor na relação sexual é causada por um transtorno mental? Não. Endometriose, DSTs,  atrofia vulvovaginal e muitas outras condições clínicas podem originar um quadro de dores na vagina. É preciso agendar uma consulta com o ginecologista antes de procurar um psiquiatra.

Dificilmente o Transtorno da Dor Gênito-pélvica/ Penetração vem sozinho. É comum que as pacientes tenham também interesse sexual diminuído. Depressão e ansiedade também podem estar presentes.

Os transtornos da sexualidade têm em geral múltiplas causas. Alguns dos fatores causais comumente relacionados ao vaginismo são:

  • Dificuldades na comunicação com o parceiro
  • Inseguranças relacionadas ao próprio corpo
  • História de abuso emocional
  • História de abuso sexual
  • Estressores como luto, desemprego, etc
  • Inibições sexuais relacionadas à religião
  • Inibições sexuais relacionadas à cultura
  • Educação sexual inadequada

O tratamento medicamentoso da patologia é um assunto complicado. Nos Estados Unidos, a FDA aprovou em 2015 o primeiro medicamento para mulheres (antes da menopausa) com desejo sexual hipoativo. A medicação ficou conhecida como “viagra feminino” e foi aprovada com restrições depois de outras 2 reprovações. Tontura, sonolência, náuseas e fadiga são alguns dos efeitos colaterais descritos pelas usuárias do remédio.

Nem tudo é desanimador nesse cenário de tratamento. Em um estudo realizado com 365 casais submetidos à terapia sexual, 65% relataram benefícios. Essas e outras publicações científicas confirmaram que a terapia sexual é uma abordagem segura e eficaz.

Referências Bibliográficas

American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

Shifren JL. Overview of sexual dysfunction in women: Management. In: UpToDate, Waltham, MA. (Accessed on March 31st, 2021).

Cannabis Medicinal

Cannabis Medicinal

No Brasil, os produtos de cannabis para fins medicinais são uma alternativa para pacientes com epilepsia, ansiedade, dores crônicas, autismo, câncer, endometriose e várias outras condições clínicas.

Os compostos mais estudados são o canabidiol e o THC (tetrahidrocanabinol).

O THC é psicoativo. É ele o responsável pela sensação de prazer buscada pelos usuários de maconha.

Tem efeito analgésico, imunomodulador, estimulante de apetite e inibidor de náuseas e vômitos. Há diversos estudos sobre o uso de THC em pacientes que estão realizando quimioterapia.

Quanto maiores as concentrações de THC, maiores os riscos. E é por isso que no Brasil o THC é encontrado apenas em pequena quantidade nos produtos de cannabis medicinal. Para efeitos comparativos:

  • A concentração de THC na maconha é entre 2% a 4%.
  • A concentração de TCH no skank é entre 14% e 15%. Mas pode chegar a 30%.
  • A concentração de THC nos compostos de cannabis para fins medicinais é menor do que 0,3%.

O canabidiol não é psicoativo e não é viciante.

Tem efeito anticonvulsivante, ansiolítico e antipsicótico.

Enquanto alguns produtos com fins medicinais contêm canabidiol, outros contêm canabidiol e THC (menor do que 0,3%).

É arriscada a aquisição de produtos de origem desconhecida, sem qualquer certificação. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que uma parcela dos canabinoides possuíam composição diferente daquela descrita no rótulo. A análise das substâncias revelou até mesmo que alguns produtos continham pesticidas e metais pesados.

Antes de iniciar o tratamento procure um médico. O profissional poderá investigar contraindicações, verificar interação com medicamentos e determinar o produto mais indicado para sua condição clínica.

Referências Bibliográficas

Afrin, F., Chi, M., Eamens, A. L., Duchatel, R. J., Douglas, A. M., Schneider, J., … & Dun, M. D. (2020). Can hemp help? Low-THC cannabis and non-THC cannabinoids for the treatment of cancer. Cancers, 12(4), 1033.

Fusar-Poli, L., Cavone, V., Tinacci, S., Concas, I., Petralia, A., Signorelli, M. S., … & Aguglia, E. (2020). Cannabinoids for People with ASD: A Systematic Review of Published and Ongoing Studies. Brain sciences, 10(9), 572.

Kisková, T., Mungenast, F., Suváková, M., Jäger, W., & Thalhammer, T. (2019). Future aspects for cannabinoids in breast cancer therapy. International journal of molecular sciences, 20(7), 1673.

Miguel, E. C., Lafer, B., Elkis, H., & Forlenza, O. V. (Eds.). (2021). Clínica Psiquiátrica (2nd ed., Vol. 2). Manole.

Saúde e Vigilância Sanitária. (2021, March 19). Solicitar autorização para importar produtos derivados de Cannabis. gov.br. Retrieved March 24, 2021, from https://www.gov.br/pt-br/servicos/solicitar-autorizacao-para-importacao-excepcional-de-produtos-a-base-de-canabidiol

Psiquiatra – tutorial sobre como encontrar o seu

Psiquiatra – tutorial sobre como encontrar o seu

Psiquiatra: tutorial sobre como encontrar o seu

 


Um psiquiatra é alguém que cursou 6 anos de medicina e 3 anos de residência médica em psiquiatria. Em várias ocasiões, fui surpreendida por quem não sabia que todo psiquiatra é médico. A psiquiatria é a especialidade daqueles que passaram os seus 1095 dias da residência comparecendo a aulas, congressos, provas, atendimentos e plantões em saúde mental. Em troca, receberam uma bolsa de estudos e tiveram todos os atendimentos supervisionados pelos preceptores.

Psiquiatra ou psicólogo?

Ouço com frequência que psiquiatras tratam pacientes graves, enquanto psicólogos tratam quadros leves e moderados em saúde mental. Na verdade, tanto psiquiatras quanto psicólogos podem tratar casos leves, moderados e graves. A recomendação de procurar um ou outro profissional não tem relação com a intensidade do sofrimento. Podemos resumir a questão dizendo que medicamentos são usados somente nos casos de transtornos mentais. Já a terapia tem um campo de atuação bem mais amplo, auxiliando pessoas que estão enfrentando um divórcio ou um algum conflito no trabalho. A questão das diferenças entre psiquiatria e psicologia é crucial. Caso ainda tenha dúvidas sobre o assunto, há um texto para ajudá-lo a descobrir se precisa de um psiquiatra ou psicólogo.

Como encontrar um psiquiatra?

Para ter a certeza de que um médico é certificado para trabalhar em psiquiatria verifique se ele tem RQE, ou seja, Registro de Qualificação de Especialista. Todos os psiquiatras com RQE deixam esse dado bem visível nos sites de divulgação. Você também pode encontrar essa informação nas páginas do conselho regional de medicina do seu estado. Basta pesquisar o nome ou CRM do médico → clicar no resultado da busca → e procurar pelo campo “especialidade/ área de atuação”. Vou falar um pouco mais sobre a área de atuação no próximo tópico.

Quais as Áreas de Atuação em Psiquiatria?

A área de atuação também é conhecida como subespecialidade. Quando um psiquiatra tem um área de atuação significa que ele percorreu um destes 2 caminhos:

  • Ou fez uma nova residência médica
  • Ou trabalhou alguns anos na área de atuação  → submeteu-se a uma prova junto à Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) →e foi aprovado.

No site da ABP, estão reunidas as 5 grandes áreas de atuação da psiquiatria:

  1. Psicoterapia
  2. Psicogeriatria
  3. Psiquiatria da Infância e Adolescência
  4. Medicina do sono
  5. Psiquiatria Forense

Em termos não-oficiais, há outros campos de atuação tais como dependência química, sexualidade, eletroconvulsoterapia, estimulação magnética transcraniana, etc. Os interessados podem procurar por psiquiatras com o currículo voltado a uma dessas áreas. Nos próximos tópicos, explicarei a importância de considerar ou não a área de atuação no momento de escolher o seu psiquiatra.

Pacientes adultos em psiquiatria

Se você é adulto e precisa de ajuda em saúde mental, procure um psiquiatra com ou sem área de atuação. Ele pode ser:

  • só psiquiatra geral
  • psiquiatra geral e psicogeriatra
  • psiquiatra geral e psiquiatra da infância e da adolescência
  • psiquiatra geral e médico do sono
  • psiquiatra geral e psiquiatra forense

Pacientes idosos em psiquiatria

Se você é idoso e precisa de ajuda em saúde mental, procure um psiquiatra com área de atuação em psicogeriatria. O psicogeriatra é alguém que estudou saúde mental do idoso, neurologia e geriatria durante pelo menos 1 ano. Por essas razões, ele está habilitado a diagnosticar e tratar os principais transtornos mentais nessa faixa etária.

Crianças e adolescentes em psiquiatria

Se você tem uma criança ou adolescente precisando de ajuda em saúde mental, procure um psiquiatra com área de atuação em Psiquiatria da Infância e Adolescência. Um psiquiatra infantil tem o conhecimento necessário para avaliar e conduzir as doenças mentais presentes na infância e adolescência.

Pacientes de qualquer faixa etária que necessitam de auxílio com questões judiciais

Se você tem um transtorno mental e precisa de ajuda com perícias e outras questões judiciais, procure um psiquiatra com área de atuação em Psiquiatria Forense. De todos os profissionais de saúde, o psiquiatra forense é aquele que possui o conhecimento a respeito da interface entre a lei e a psiquiatria.

Pacientes com qualquer faixa etária e algum transtorno relacionado ao uso de substâncias

Se você deseja tratamento para questões relacionadas ao uso de álcool ou outras drogas, procure um psiquiatra com experiência na área de dependência química. Em geral esses profissionais frequentaram congressos, possuem publicações e trabalharam em serviços de referência para os transtornos relacionados ao uso de substâncias.

Como é a consulta com o psiquiatra?

A consulta com o psiquiatra parece mais com o atendimento de outras especialidades médicas do que com uma sessão de terapia. No primeiro contato com o paciente há o registro da história clínica, do exame físico, do exame psíquico, da hipótese diagnóstica e da conduta a ser tomada. A duração dos atendimentos varia com o profissional e com a queixa clínica do paciente. Costumo reservar 1 hora para a primeira consulta. Uso boa parte desse tempo tentando compreender a história clínica do paciente, através de questionamentos sobre:

  • idade
  • estado civil
  • número de filhos
  • escolaridade
  • profissão
  • queixa principal
  • história da doença atual
  • padrão de sono
  • outras doenças clínicas
  • medicações em uso atual
  • medicações usadas no passado
  • cirurgias
  • alergias
  • internações
  • uso de álcool
  • uso de outras drogas
  • história familiar

Dependendo das hipóteses diagnósticas, do sexo e da faixa etária do paciente, outras perguntas poderão ser necessárias.

Qual o intervalo ideal entre as consultas em psiquiatria?

No princípio boa parte dos pacientes precisa retornar em um mês. O tempo vai passando e após uma sensível melhora, os pacientes precisam retornar a cada 2 meses. No entanto dependendo da gravidade do quadro, o intervalo entre os atendimentos pode ser encurtado ou prolongado. Os pacientes em sessões semanais de terapia costumam estranhar o intervalo mais longo entre uma e outra consulta com o psiquiatra. É que boa parte dos medicamentos necessita de algum tempo para produzir o efeito desejado.

Quem são aqueles que procuram o psiquiatra?

Conheci pessoas extraordinários no meu consultório. Há médicos, jornalistas, psicólogos, enfermeiros, youtubers, empresários, fisioterapeutas, etc. Gente que ao menos uma vez resolveu tirar a colher da boca e se perguntar o porquê de estar comendo (Jostein Gaarder, em “O Pássaro Raro”). O meu tipo de gente.

Referências Bibliográficas

<https://www.abp.org.br/>. Acesso em 25 de fevreiro de 2023.

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